Friday, October 20, 2006

Não é ficção

Não consigo transformar em história o que ocorreu. Por isso, prefiro ser direta e transcrever as palavras do boletim de ocorrência:
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Natureza do fato: Roubo
Data da comunicação: 17/10/2006

Afirma a vítima que no dia de hoje, por volta das 04h10min, encontrava-se na sua residência (...), quando foi surpreendida com um ladrão armado com uma faca, dentro do seu apartamento; que a vítima acordou com o barulho feito pelo meliante, ao procurar por objetos e valores dentro do apartamento; que este, ao deparar-se com a vítima ordenou que lhe fosse entregue o aparelho celular, fazendo ameaças com a faca em punho; que a vítima entregou o celular (...); que em seguida o meliante, um sujeito baixo, moreno claro, imberbe, cabelos curtos, magro, aparentando uns 25 anos de idade; que posteriormente o meliante foi embora; que depois da saída do meliante a vítima verificou que também haviam sido roubados duas câmeras digitais (...), além da quantia de R$ 89,00. E nada mais disse.

Noticiante: Lediana Carvalho de Aquino.

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Dou graças a Deus pois sei que o que aconteceu foi o menor dos males. Poderia ter sido pior, muito pior. A gente pensa que nunca vai passar por estas situações até que um dia acontece. Não sei descrever o pavor, o medo que senti na hora. Agora o jeito é seguir em frente, recuperar os bens materiais que foram roubados, me mudar novamente de casa (não tenho mais coragem de continuar morando ali), cuidar mais da minha segurança e esquecer desse episódio. Tentar esquecer, pelo menos.

Monday, October 02, 2006

Engenheira por precisão

"PRECISÃO: s. f., necessidade; carência de alguma coisa indispensável ou útil; qualidade do que é exato; exatidão; pontualidade; exatidão de cálculos; rigor sóbrio de linguagem; concisão."

Estes significados atribuídos para a palavra precisão segundo o dicionário, justificam de forma literal as razões que me fizeram escolher a Engenharia como profissão.

Uma menina de 13 anos não sabe muito bem os motivos que a levam a escolher o CEFET como escola para estudar no 2º grau, muito menos qual curso pretende fazer. Comigo não foi diferente. Lembro-me apenas que fui influenciada por minha irmã, Luciana, que já estudava lá, e só tinha elogios tanto para a escola como para o curso de Eletromecânica. Somente com o tempo é que passei a entender melhor os detalhes da profissão, e percebendo, no fim das contas, que havia realmente feito uma boa escolha!

Como todos devem saber, o método utilizado pelo CEFET visava a formação no ensino médio e o técnico profissionalizante ao mesmo tempo. Por isso, o curso não durava 3, mas sim 4 anos. No último ano, precisávamos fazer mais uma escolha: a habilitação, que era o ramo específico para nos especializarmos, e para onde seria direcionado o estágio.

Nos 1º e 2º ano eu era uma "estudante profissional". Minhas aulas aconteciam pela manhã e, normalmente, eu arranjava um motivo para ficar lá pela escola depois da aula: um trabalho, uma lista de exercícios, estudar com os colegas nas vésperas das provas, passar o tempo, jogar conversa fora com os amigos, ou mesmo dormir nas arquibancadas do campo de futebol. No final da tarde, começava o treino de atletismo e só depois dele eu ia pra casa. Esta era a minha rotina. Foi o que me fez, de forma natural, gostar daquele ambiente e me apegar cada vez mais ao que eu vivia ali, inclusive ao conhecimento que eu adquiria.

Em 1997 eu comecei a trabalhar. A necessidade surgiu depois de uma discussão que tive com meu pai, cuja causa eu jamais vou lembrar. Não me esqueço é de sua conseqüência: em forma de castigo, ele não me deu o dinheiro para que eu pudesse pegar o ônibus e ir à Escola no dia seguinte, o que me obrigou a fazer a pé o caminho que, de ônibus, durava 40 minutos. Não sei por quanto tempo andei, mas enquanto caminhava eu percebi que não podia mais depender exclusivamente do dinheiro dele.

Comecei como bolsista do próprio CEFET. Depois, já em 1998, contei com o apoio de um professor que acabou se tornando um grande tutor. Foi ele quem me orientou sobre minhas próximas escolhas: fazer habilitação em Eletrotécnica e estudar na turma da noite, deixando o tempo livre para trabalhar. Também através dele, consegui o meu primeiro emprego com carteira assinada: eu era a secretária no escritório de uma obra da CHESF em que ele era o Engenheiro. Pena que entrei lá já sabendo que a obra acabaria em menos de um ano, e em seguida todos seriam demitidos. Era assim que funcionava.

Sem falar que aquele já era meu último ano e eu precisava cumprir o estágio curricular do CEFET para poder me formar. Por isso não parei de procurar outra oportunidade. E a melhor delas foi vir à Fortaleza estagiar na Cemec, uma indústria de transformadores.

Havia 2 vagas: uma para um técnico já formado, que minha irmã conquistou, e outra para estagiário, que eu também consegui. Na verdade, a Cemec sempre selecionava um aluno do CEFET-RN para estagiar lá. Naquele ano, de todos os meus colegas concluintes, somente eu tive a coragem de ir embora e enfrentar a nova cidade, me sustentando com o salário de estagiária. Sorte que viemos nós duas, eu e Luciana. Assim, podíamos dividir o apartamento, as despesas e a experiência de sair de casa deixando tudo para trás.

Na Cemec, concluí meu estágio e logo em seguida fui contratada. No fim das contas, passei 4 anos por lá. Me orgulho e sou grata por tudo o que aprendi naquela empresa. Saí de lá em busca de novas e melhores oportunidades que, graças a Deus, venho conseguindo desde então. Passei pela Rigesa, uma indústria de embalagens pertencente a um grupo multinacional, e hoje estou na Esmaltec, uma indústria de eletrodomésticos.

Iniciei minha carreira na área de Gestão da Qualidade, desde o estágio, e é onde atuo até hoje, aplicando nas empresas os requisitos da Norma ISO 9001. O CEFET e a formação técnica me abriu as portas para entrar no ramo industrial, e me preparou para lidar com o mundo corporativo. Mas, na prática, muito do que eu precisava fazer no trabalho eu aprendi do zero, somente depois de me formar. De lá pra cá, muitas coisas mudaram nas empresas, nos conceitos que aplicamos na Gestão da Qualidade, a própria ISO 9001 mudou. E eu precisei me adaptar a essas mudanças, evoluir junto com elas.

Nesse meio tempo, entrei na Universidade. Dessa vez, minha escolha estava sendo melhor analisada. Mas admito que nem por isso havia certezas absolutas em minhas decisões, pelo contrário. Inicialmente eu me baseava nas coisas que eu gostava de fazer e no que eu gostaria de aprender. Assim, durante 2 anos, prestei vestibular para Engenharia Elétrica, Administração e depois para Letras! Não passei em nenhuma das vezes.

Quando eu quase largava tudo para fazer Educação Física, percebi finalmente que o que eu precisava mesmo era seguir na mesma linha do ramo onde eu já trabalhava, assim poderia continuar evoluindo profissionalmente. Foi então que definitivamente escolhi: Engenharia de Produção Mecânica na UFC. E passei!

Engenharia de Produção é um curso versátil. Aprendemos ao mesmo tempo os cálculos da Matemática e da Física, a subjetividade da liderança, das estratégias e planejamentos, o preciosismo do projeto, entender o mercado, os produtos, os clientes, e tentar, da forma mais eficiente possível, fazer os melhores produtos, processos ou serviços necessários.

Permaneço na rotina "Casa - Trabalho - Universidade - Casa" desde 2002. Apesar desse tempo que já se passou, a minha formatura ainda está um pouco longe, isso por causa da dedicação que preciso dividir entre trabalho e estudo. Mas valorizo muito a vida acadêmica e profissional que já experimentei, e tenho pés no chão quanto aos meus projetos para o futuro, que não descartam nenhum dos degraus que me trouxeram até aqui. Sigo em frente então, com a quase certeza de que estou no caminho certo!