Friday, August 13, 2004

Histórias da vida real - Episódio 4 de 4

Ok, ok...

Vamos tirando as teias de aranha que se formaram aqui e continuando a nossa conversa exatamente do ponto onde paramos...

***

Recadinho ao pessoal que comentou no post anterior:

Meus amigos, é tão bom saber que vocês me visitam... Melhor ainda é perceber que as saudades que sinto são recíprocas. Obrigada pela visita, pelos elogios, pelas mensagens, pelo incentivo. Estou me dando uma missão pessoal de cuidar dessa "casa" e não deixar as borboletas irem embora...

***

--------------------

Diário de bordo: 24 a 30 de Maio de 2004.

Deixando o melhor para o final, o quarto e último episódio desta série, mais do que uma homenagem, tenta mostrar que a realização de um sonho é resultado de uma soma que inclui, dentre outros elementos, força de vontade, certezas, paciência, um pouquinho de sexto-sentido e sorte também. Minha querida irmã, Luciana, mostra-se um exemplo a ser seguido... E confirma a esperança de que "tudo no fim dá certo", mesmo!

Ela foi, viu e venceu...

Essa história, na verdade, tem o seu desfecho na semana de 24 a 30 de maio.

Tudo começa muito antes, em dezembro de 2003, quando Luciana navegava pelo site da Folha dirigida em busca de concursos. Tarefa costumeira, que ela fazia toda vez que se conectava à internet.

Naquela noite, um concurso lhe chamou a atenção: Petrobrás - Técnico de Projetos Mecânicos (ou algo parecido). Não seria o primeiro nem o último concurso no qual ela se inscreveria. Mas foi sim, o que ela mais quis conquistar, o que ela mais se dedicou.

Não era à toa. Luciana é Técnica em Mecânica e trabalhou um bom tempo na área de projetos. Foi uma área onde ela sempre quis atuar. E caiu como uma luva a coincidência de haver um concurso para esta função justamente numa época em que ela decidiu parar de trabalhar para poder se dedicar melhor aos estudos e ter, pelo menos, a intenção e a possibilidade de ser aprovada.

Mas nem tudo foi tão conveniente assim. O concurso não era federal, mas sim, disponibilizado apenas para a região sudeste. Os locais de provas limitariam-se às cidades de Vitória - ES, Rio de Janeiro - RJ e Macaé - RJ.

- Não tem problema! - foi que concluiu Luciana ao ler essa informação no edital.
Inscreveu-se e escolheu a cidade de Vitória para fazer a prova. Dois meses depois, em Fevereiro, recebeu a carta com as informaçães sobre o local da prova.

E, assim como alguém que se prepara para ir ali na esquina, Luciana colocou uma mochila nas costas e foi para a Rodoviária pegar um ônibus que lhe daria 2 dias inteiros de viagem.

Chegou na rodoviária em Vitória na manhã do dia da prova, que seria realizada à tarde. Com o endereço na mão, pegou um ônibus que a levou direto para o local descrito na carta. Nem parecia que tinha vindo de tão longe... Vale citar que Luciana nunca esteve em Vitória.

Segundo ela, a prova foi boa. O único deslize foi o fato de ter praticamente dormido durante a leitura do texto da prova de português, fruto da insônia decorrida durante a viagem de ônibus. Com isso não conseguia permanecer atenta para poder responder às perguntas sobre a interpretação.

Acabou a prova e ela voltou pra casa tal como veio, chegando em Fortaleza 2 dias depois. Agora era esperar o resultado...

E ele veio, um mês depois, mostrando-a que havia ficado entre os classificáveis. Por pouco ela não havia conseguido uma das 40 vagas disponíveis. E ela imaginava:

- Será que alguém desistiria de uma aprovação num concurso da Petrobrás?

Ela mesma achava que não. E, por algum tempo, resolveu se contentar com o "quase" sucesso. Afinal, o concurso tinha uma concorrência de 20 candidatos por vaga. Ter ficado entre os 60 primeiros era o indício de que estava no caminho certo.

- Talvez, se tivesse dormido melhor durante a viagem de ida...

Eu acompanhava de perto tudo isso. às vezes, pessimista, eu chegava a pensar que não era justo tanto esforço para "quase" chegar lá. Melhor seria, até, ficar lá pelos últimos colocados. Pelo menos não existiria mais a esperança de poder ser convocada.

Mas é como dizem: "o jogo só acaba quando termina". Apesar dos momentos de incertezas, Luciana esperaria os 2 anos de validade do concurso se fosse preciso. Sempre tinha algo lhe dizendo que as coisas iriam se encaminhar bem, no final.

Algum tempo depois, já em abril, recebeu uma convocação para apresentar-se no Rio de Janeiro, munida de toda a documentação citada no edital. Nada lhe assegurava de que estava sendo convocada para trabalhar. Ela telefonava para o departamento que enviou-lhe o telegrama e sempre lhe diziam que se tratava de formação do cadastro, não era convocação para trabalho.

Muitas dúvidas rondaram a mente de Luciana: ir ou não ir, medo de perder uma grande oportunidade, medo de gastar dinheiro à toa com uma viagem que só lhe traria outra decepção: um resultado "quase" perfeito... Pensou, pensou e decidiu ir. Jamais se perdoaria caso aquela fosse uma chance jogada para o alto.

Foi um sufoco aprontar toda a documentação. Precisou ir à Natal para buscar alguns documentos. E seguiu para o Rio, onde passou uma semana fazendo testes físicos, exames médicos e psicológicos. Mas nada assegurava que seria convocada. Como diziam, aquilo tudo era para formação do cadastro de pessoal. Como ela não estava entre os 40 primeiros, nada lhe podia ser assegurado...

Mas eis que, finalmente, justamente na semana de 24 a 30 de maio, chegou a convocação que dizia que ela deveria se apresentar em Macaé na semana seguinte para ser contratada. O número de convocados havia sido aumentado de 40 para 60 pessoas.

Foi uma euforia só! Eu estava no almoço de encerramento do curso (citado no episódio 2 desta série) quando recebi a ligação de Luciana avisando que havia recebido a convocação. Fiquei muito feliz por ela, e não sosseguei enquanto não cheguei em casa para parabenizá-la e abraçá-la.

Era uma sexta-feira. Ela decidiu que iria para Natal antes, se despedir da família e da própria cidade natal. E por isso, viajaria no Domingo, seguindo de lá para Macaé, na terça ou quarta-feira...

O fim de semana foi repleto de despedidas. Os amigos de Fortaleza se encontraram em plena madrugada de sexta-feira, num barzinho no bairro onde os meninos do Coda moram. No sábado todos foram ao Show do Coda. No domingo de manhã saímos com o Romulo (grande amigo nosso nessa Fortaleza, desde os primórdios, quando chegamos aqui)... E nesse meio tempo arrumávamos a bagagem que ela levaria.

E ela foi embora no domingo à noite, 30 de maio de 2004, às 23h. Rumo ao futuro, ao primeiro dia do resto de sua vida. Lembro-me de nosso último abraço:

- Boa sorte, minha irmã!

- Obrigada!

- Ligue quando chegar lá, mande notícias!

- Certo, eu ligo, eu escrevo!

- Tchau! Até a próxima!

- Tchau!

Poucas palavras, porque outras estavam em nosso olhar, em nosso silêncio, nossa amizade de 23 anos, que dispensa comentários. Não havia espaço para lágrimas. Estávamos felizes, satisfeitas. A despedida era necessária e fazia parte da nossa história. Que bom que estava acontecendo daquela forma, com boas notícias ao redor.

Muitas coisas ainda estão lá em casa esperando por ela: roupas, sapatos, objetos. Na verdade, até eu, às vezes penso que vou chegar em casa e ela também estará lá, ou chegará em breve...

Parabéns, mais uma vez, Luciana! Você merece tudo de bom por aí! Espero que você esteja (e eu sei que está) se adaptando bem por aí nesse novo mundo. Qualquer dia farei uma visita. E você sabe: aqui a casa é sua e estamos todos de portas abertas esperando por você de volta.

--------------------

Ufa! E assim termina a série "Diário de bordo: 24 a 30 de Maio de 2004". Peço desculpas pelo sumiço... Esse "episódio" merecia estar aqui há muito tempo, já. Mas tá aí: antes tarde do que nunca!

Mais histórias estão por vir e eu não hesitarei em contá-las por aqui.

Até mais!