Saturday, September 02, 2006

Atleta por vontade

O esporte é outro ramo onde o CEFET-RN se destaca. Sua estrutura, com a piscina semi-olímpica, 3 quadras cobertas, o ginásio e o campo de futebol com pista de atletismo, foi palco de jogos memoráveis e trampolim para algumas estrelas do esporte: tínhamos a recordista estadual de natação, uma representante na seleção brasileira de handball, e muitos atletas que eram selecionados para representar o RN em campeonatos pelo Brasil.

Todo ano, geralmente no mês de Outubro, acontecia os JERN's - Jogos Escolares do Rio Grande do Norte - com a participação de atletas de todas as escolas públicas e particulares do estado. As equipes se preparavam, a torcida se organizava, e o CEFET, que sediava alguns jogos, ficava bem movimentado nessas épocas.

No primeiro ano, eu fiquei apenas na torcida. Assistíamos a vários jogos, acompanhávamos as equipes até às finais, vibrávamos, cantávamos os gritos de guerra. Era uma verdadeira festa! Todos ali reunidos, torcendo, comemorando as vitórias, lamentando as derrotas também... Naquele ano, o esporte fez de mim uma espectadora entusiasmada!

Após todo esse orgulho e união que a Escola nos dava, mais ou menos um mês depois dos JERN's, tinha os Jogos Internos, uma competição entre os cursos, realizada dentro do CEFET. E todos faziam questão de representar, torcer e brigar cada um pelo seu próprio curso, situação similar à época dos JERN's, só que de forma diferente, dividida.

O curso de Eletromecânica tinha uma tradição de vitórias nos jogos, e uma peculiaridade: a falta de mulheres para fazer parte das equipes femininas. Em 1995 não foi diferente: ao todo éramos 9 meninas que juntas formamos a equipe de futsal, handball, basquete, volleyball, volley de praia, atletismo e natação. Nossa estratégia jamais foi a da vitória, mas sim, da participação. Os três primeiros colocados ganhavam medalhas, mas até o 5º pontuava para o curso. E era aí onde estava o nosso foco. Havia cursos que não se inscreviam em todas as modalidades, apenas pela ameaça de suas equipes não virem a ser as campeãs. Nós pensávamos diferente: se nesses esportes conseguíssemos no mínimo o 5º lugar, a missão já estava cumprida, teria sido melhor do que não ter participado.

E às vezes até surpreendíamos a nós mesmas, como no futsal, que, com nossas "pernas de pau" fomos a zebra do torneio, conquistando a medalha de prata. Mas foi no atletismo que nos tornamos a revelação. Conseguimos encaixar as 9 meninas em cada uma das provas. E enquanto outras meninas de cursos variados se revezavam e eram as favoritas para os primeiros lugares, Eletromecânica estava sempre presente na segunda ou terceira colocação.

A cada jogo, a cada prova, fomos somando os pontinhos necessários. E não foi à toa que, no final das contas, o curso de Eletromecânica tornou-se o campeão geral da competição nesse, e nos outros anos.

Foi esse cenário, tão repleto de acontecimentos, gente, amizade, alegrias, lições e conquistas, que me motivou a entrar no esporte. O que começou como um divertimento, uma recreação, passou a ser levado a sério, cada vez mais. Os jogos internos também servia como uma espécie de vitrine com o objetivo de selecionar atletas para as equipes que representariam o CEFET nos JERN's do ano seguinte. E cada uma das 9 "guerreiras" de Eletromecânica conquistaram sua vaga em alguma das equipes. Eu entrei no atletismo, de onde nunca mais saí.

O esporte nos dá esse desejo de superação, a consciência da capacidade que temos, e de onde podemos chegar. Corpo e mente trabalham juntos buscando um equilíbrio que é fácil de ser atingido quando queremos. A idéia principal é "melhorar sempre". E o atletismo, individual por natureza, me deu uma certeza: tudo o que quero conquistar só depende de mim.

Acho que para cada competição, cada prova que participei, há uma história para contar. Sem falar nos treinos, na união da equipe, no grande professor que foi o meu técnico. Ganhei muitas medalhas, quebrei recordes, aprendi, ensinei, fiz grandes amigos... Foram 2 anos de total dedicação ao esporte, e que foram muito bem recompensados.

Mas o tempo foi passando, as coisas foram mudando... No "mundo real" eu passava por problemas familiares que me levaram a sair de casa. No atletismo, encontrei um grande refúgio para este problema, tanto pelos ombros amigos, como os exercícios em si, que me permitiam desabafar as raivas e tristezas silenciosamente, transparecidas apenas pelo meu esforço além do comum, concentrados em melhorar minhas marcas. Alimento para a alma, mas nada concreto. Eu precisava ganhar dinheiro, trabalhar para me sustentar. E o esporte foi a primeira coisa que tive que abandonar quando consegui meu primeiro emprego. Não havia mais tempo para treinar e as competições sempre coincidiam com meu horário de trabalho, ou de aula.

Após concluir o CEFET e me mudar para Fortaleza, tive a oportunidade de voltar aos treinos à noite, e consegui conciliar novamente a vida de atleta. Dessa vez eu participava de competições estaduais e cheguei a representar o estado do Ceará em campeonatos regionais e nacionais. Minhas provas eram as corridas de longa distância (3km, 5km e 10km) e a marcha atlética (20km). Outras aventuras surgiram, competições, viagens, eventos, corridas de rua... E eu sentia mais uma vez aquele bem-estar interior de antes. Encarava tudo com bastante seriedade, tinha toda dedicação e disciplina: dormia e acordava cedo, não bebia nada alcóolico, treinava regularmente, dava atenção especial à alimentação...

Mas esses sacrifícios me custaram 2 anos de reprovação no vestibular. Por causa do atletismo, eu não tinha tempo de estudar. Então tive que mudar de prioridade, e de novo deixei o esporte em segundo plano. Passei no vestibular no ano seguinte, e continuei sem poder voltar aos treinos devido às aulas noturnas da faculdade.

Até hoje estou nesta situação. 4 anos se passaram e não me restou muito do corpo atlético que eu ostentava, e receio que seja um pouco difícil atingir novamente as minhas marcas de antigamente. Acho que ainda não desaprendi a técnica da marcha atlética (mas também aquele "reboladinho" é igual a andar de bicicleta: aprendeu, jamais esquece) e carrego comigo todas as boas lembranças, motivações e aprendizados que adquiri com o atletismo, e que ajudam a trilhar os rumos da minha vida.

Mas não abandonei o esporte por completo. Continuo atleta. Participo de corridas de rua, pedalo, faço meu cooper às vezes... Mas nada perto do que era. Ainda tenho a intenção de voltar às pistas no mesmo ritmo daquela época. O que me conforta é saber que as estatísticas comprovam que, em média, o atleta chega no seu auge aos 30 anos de idade. Até lá, o corpo tem todas as condições para se desenvolver e se superar. Isso significa dizer que eu ainda tenho 5 anos para chegar a um nível igual ou superior ao que já alcancei um dia. Minha meta para 2007 é participar dos JUB’s – Jogos Universitários Brasileiros, e do Campeonato das Indústrias, realizado pelo SESI. Quem viver, verá!