Tuesday, July 17, 2007

averbuck is on the table

Há muito tempo, antes dos blogs e dos grupos de discussão na internet, alguns ousados se atreveram a criar os zines virtuais. Pegando carona nos zines em papel, que existem desde sempre, a divulgação era boca-a-boca [ou e-mail-a-e-mail] e o leitor que tivesse interesse, entrava em contato com o idealizador do zine para ser cadastrado na sua lista de e-mails. Na verdade, não sei datar com precisão. Mas creio que foi entre 1999 e 2001. Lembram?

E eu era colunista do Web Zine Kallicháos. Ao entrar para esse time, comecei a pesquisar mais sobre o assunto e descobri muitos outros zines. Havia então o famoso CardosOnline, com a participação de autores que viriam integrar a chamada Geração 90. Pode-se dizer que foi este zine que antecipou o boom de pequenas editoras e cooperativas de autores nos anos 2000.

Durante alguns anos a leitura de zines na internet foi o meu passatempo favorito. E, dentre os vários textos e escritores dessa nova geração que eu lia, me deparei com o título de uma coluna bem interessante: averbuck is on the table

"Que genial!" pensei! A autora usava o próprio sobrenome na forma de uma brincadeira, um jogo de auto-identificação. Clarah Averbuck me conquistou assim: eu nem havia lido e já gostava dela.

Creio que percebemos o quanto admiramos um escritor quando, ao ler um de seus textos, nos pegamos pensado: "Nossa! Eu queria ter escrito isso!". E com a Clarah foi o que mais me aconteceu. Seu estilo tem um tom urbano, moderno, cheio de dilemas e do "foda-se" que ela sabe a hora certa de escrever.

Eu a acompanhei no CardosOnLine, e em seguida no seu blog brazileirapreta!. Depois ela sumiu da internet e eu ouvia falar dela somente de vez em quando, pensando que ela havia desistido ou se entregado a outras motivações.

Foi então que dia desses eu a redescobri em um novo blog, o Adiós Lounge, com textos cada vez mais belos, e com os quais cada vez mais eu me identifico. Há um pouco de Clarah Averbuck em mim, não tenho dúvidas disso.

Nesse meio tempo, ela teve uma filha, Catarina, que hoje tem quase 4 anos de idade; apareceu na TV Cultura no programa Provocações, e no Fantástico, sendo entrevistada numa reportagem especial sobre os desafios da juventude moderna. E publicou 3 livros, com o 4º já a caminho. Suas obras também serviram de inspiração para um filme estrelado por Leandra Leal.

Fico feliz em ver alguém que admiro tendo sucesso. Realmente é de se surpreender, e de se parabenizar, quando vemos pessoas que conseguem sobreviver de sua produção artística. E a Clarah merece!


FICA TÃO SOLITÁRIO ÀS VEZES QUE ATÉ FAZ SENTIDO
Clarah Averbuck


não existe solidão maior
do que você levantar da sua cama
porque tem alguém lá.

não existe solidão maior do que falar
e não ser entendido
e ainda criar mal-estar.

não existe solidão maior do que ficar em silêncio
do que querer ficar em silêncio
e quererem que você diga algo
mesmo que não haja nada a declarar.

então eu fico sozinha comigo
que a mim eu sei suportar.


....

"E agora eu continuo escrevendo para mim, mas se eu não publicar, não existiu. Vai entender. O Arturo me entendia."

Wednesday, July 04, 2007

Corrida dos Carteiros

No sonho daquela manhã de domingo, eu estava em cima da hora para o começo da corrida e atravessava a cidade inteira na tentativa de não me atrasar. O esforço inconsciente foi tal que eu acabei abrindo os olhos antes do final da história. Será que eu conseguiria chegar a tempo?

Na vida real, olhei no relógio e eram 6h30min. O sonho tinha razão. Era a hora em que eu deveria já estar no local da largada. Mas ainda havia tempo. Na noite anterior eu planejara o horário com folga. Rapidamente me vesti, passei o protetor solar, peguei o mp3 player, minha carteira de estudante, algumas moedas e, de maneira pleonástica, corri até a corrida.

Sim, deu tempo de pegar o chip [as corridas agora são hi-tech: todos carregam consigo um chip que automatiza a cronometragem individual], alongar e aquecer. A largada foi pontualmente às 8h da manhã, na Av. Oliveira Paiva, quase esquina com a Washington Soares.

O percurso tinha 10,5km de extensão, seguia direto pela Oliveira Paiva até o viaduto sobre a BR-116, onde a rua muda de nome e passa a se chamar Paulino Rocha, até o Estádio Castelão. Depois do girador, pegamos a Av. Dedé Brasil e continuamos nela direto, até o ponto de chegada no Clube dos Correios, que fica próximo à UECE.


Falando assim, parece tudo pertinho. Mas vá você lá fazer o percurso a pé, correndo, embaixo do sol escaldante desta Fortaleza. Depois me diga se é fácil ;)

Desde meus tempos áureos de corredora, eu carrego comigo algumas estratégias:

1) Desistir por bobagem, jamais - vou me arrepender muito se um dia abandonar uma prova sem um motivo muito forte.

2) Nunca parar para caminhar - na pior das hipóteses, devo diminuir o ritmo, pois qualquer trotezinho é mais rápido e mais eficiente do que a caminhada.

3) Na subida, dar tudo de mim - assim a dificuldade acaba logo

4) Na descida, aproveitar o embalo e aumentar a velocidade - só ter cuidado para não sair rolando ladeira abaixo, heheh.

5) Aumentar o ritmo sutilmente a cada quilômetro - na verdade, ao agir como se estivesse aumentando, sei que estou apenas mantendo, isso ajuda a não diminuir inconscientemente.

6) Parar apenas no caso de dor extrema ou arriscada impossibilidade física - assim diminuo a incapacidade psicológica, ainda bem que nunca precisei usar esta estratégia.

Comecei no ritmo ao qual já estou acostumada. Os 3 primeiros km foram tranqüilos. Mas foi entre os km 3 e 4 que comecei a sentir o calor do sol e do asfalto. Ainda bem que ali era o primeiro posto de água e eu peguei 2 copos: um para beber aos pouquinhos e outro para literalmente tomar banho.

Logo em seguida veio a subida do viaduto. Algumas pessoas que vinham ao meu lado já começavam a desistir dali, parando para caminhar. Outros permaneciam firmes ou apenas diminuíam um pouco o ritmo para agüentar. Eu segui na estratégia nº 3 e consegui algumas ultrapassagens.

Durante todo o percurso, eu me distraí ouvindo música. Selecionei a pasta "Rock'n Roll" no mp3 player e fui seguindo ao ritmo das melodias. Às vezes começava uma mais lenta e eu rapidamente mudava de faixa, evitando a influência. Destaque para a música "Another brick in the wall" do Pink Floyd que me acompanhou entre os km 4 e 5 e me fez viajar. Vendo todos aqueles atletas ao meu lado e eu ali também sozinha, cada um em busca de um resultado particular, percebi: no final das contas, éramos somente mais um "tijolo no muro".

Enfim, chegamos ao Castelão. Pensei: "Ótimo! Agora é só pegar a Dedé Brasil e pronto, chegamos!". Mas, que nada! Ali ainda era a metade do percurso. Foi nessa hora em que mais quebrei o ritmo. Mesmo em condições favoráveis - o terreno era plano e eu já havia me adaptado ao calor do dia - minhas pernas não me obedeciam. Era como se eu estivesse carregando um peso enorme nas panturrilhas...

De fato eu não estava nem um pouco preparada fisicamente para aquela corrida. Foram apenas duas semanas de treinamento e eu não podia esperar um resultado espetacular. Seguindo a estratégia nº 2, decidi diminuir um pouco o ritmo, para garantir chegar inteira na final... Me prometi que nos últimos 3 quilômetros eu tentaria ir mais forte.

Eu travava verdadeiras batalhas internas. Parte de mim queria desistir, mas outra parte não permitia nem que eu pensasse tal bobagem:

- Se eu desistisse, acabava com isso...
- Claro que não vou desistir! Me resta continuar correndo!
- Eu só queria que isso acabasse logo...
- Ora! Então vou acelerar. Quanto mais rápido eu for, mais rápido chegarei ao final!

Meu objetivo era superar o tempo que eu havia feito na corrida da Unifor, em dezembro de 2006. Lá, o percurso tinha 10km que eu completei no tempo de 01:13:01. Se eu conseguisse o mesmo tempo com os 10,5km, me daria por satisfeita. Pelo que eu acompanhava com o cronômetro a cada quilômetro, percebi que conseguiria sim atingir essa marca.

Cheguei no km 7 e coloquei em prática a estratégia nº 5, tentando ir mais forte a cada quilômetro. Mas somente no km 9 consegui a mesma velocidade do começo da corrida. Rapidamente cheguei no km 10 e daí só faltavam 500m... Consegui fôlego para o sprint final fui a 100% rumo à linha de chegada.

No mp3 player, a pasta "Rock'n Roll" finalizara e mudava para a pasta do disco "In Cité" de Lenine. Terminei a prova com o tempo de 01:09:56, ouvindo a introdução da música "Caribenha nação", inclusive haviam os aplausos típicos de um início de show ao vivo. Uma coincidência muito bem providenciada pelo acaso.

Deixei as músicas de Lenine me embalarem enquanto eu relaxava. Devolvi o chip, peguei minha medalha [todos que completavam o percurso ganhavam], bebi água, comi doces de frutas que ali estavam sendo distribuídos e fui em busca de um lugar para descansar.

Alonguei, descansei mais um pouco. Revi amigos de antigamente e os que treinam comigo hoje em dia, na Unifor. Também conheci pessoalmente o Félix, idealizador do site atletismocearense.com [já havíamos nos contactado antes por e-mail].

A sensação de dever cumprido foi o que melhor experimetei naquela manhã. Dialoguei com os outros atletas e compartilhávamos o mesmo bem-estar:

- O melhor é isso: chegar ao final.
- O pior teria sido desistir, não é?
- É verdade! E olha que dá um vontade... Heheh!
- Mas, desistir, jamais!
- Exatamente!

Próximo domingo tem a Maratona de revezamento Pão de Açúcar. São só 5km e dessa vez minha meta é fazer um tempo abaixo dos 30min em média que eu fiz nos anos anteriores.

Enfim, sei que posso ir muito além do que fui. O segredo é treinar mais e melhor!